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Debate TV Gazeta com os candidatos à Presidência

É a primeira vez que os presidenciáveis se encontram após o atentado com Jair Bolsonaro

Debate entre os candidatos à Presidência na TV Gazeta.
Debate entre os candidatos à Presidência na TV Gazeta.MIGUEL SCHINCARIOL
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Atentado devolve campanha de Bolsonaro à sua zona de conforto: as redes sociais

O terceiro debate entre os presidenciáveis na televisão aberta, realizado pela TV Gazeta e o grupo Estado com a rádio Jovem Pan e o Twitter, teve a difícil missão de reunir os candidatos que tentam ganhar terreno sobre o eleitorado dos líderes das pesquisas que não estavam presentes — o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que foi proibido de concorrer, e o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ), hospitalizado depois da tentativa de assassinato. Estavam presentes Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Alvaro Dias (Podemos), Henrique Meirelles (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL). O Cabo Daciolo (Patriota), que também havia confirmado, não compareceu. Sem Bolsonaro ou um candidato do PT, coube aos presentes disputar o que se imagina, neste momento, ser o segundo lugar no segundo turno.

Desta forma, nos blocos com a troca de perguntas entre os candidatos, repetiu-se a tática de jogar uma pergunta sobre algum assunto, para que na réplica pudessem promover suas próprias ideias. Foi assim com Marina Silva (Rede) quando perguntou a Guilherme Boulos (PSOL) sobre a questão indígena. O candidato do PSOL respondeu enaltecendo que sua vice é Sonia Guajajara, uma liderança do grupo indígena que vive no Maranhão. Na sequência, Marina falou sobre os projetos da Rede para o assunto. O ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) fez o mesmo ao perguntar sobre saneamento básico para Henrique Meirelles (MDB). O tucano e Meirelles, em todo caso, protagonizaram alguns embates, mas que acabaram limitados pelo curto tempo para as interações.

Ciro protagonizou quase metade (45%) das menções ao debate no Twitter, mas talvez não tenha muito a celebrar. A hashtag alusiva ao debate nem sequer estaria entre os assuntos mais comentados se não estivesse sendo patrocinada — a morte de Mr. Catra foi o assunto mais comentado na rede social ao longo do debate. A audiência do debate na televisão também foi inexpressiva, e mesmo os aliados políticos dos candidatos não prestigiaram o evento — nenhum dos candidatos a vice-presidente compareceu. Mesmo assim, analistas políticos mostram que ele adota uma linha adequada. “Ciro e o discurso da mudança e sua proposta do SPC. O único a destacar o desemprego e a violência contra a mulher. Fala de desenvolvimento e não de reforma. É outra narrativa para sua proposta de governo”, apontou o professor Eduardo Grin, que tem comentado os debates no EL PAÍS. Para Andrei Roman, da consultoria Atlas Político, o resultado do debate está claro. “Ciro ganhou, Alckmin conseguiu um desempenho razoável e a Marina foi bem pior do que esperava”, analisa Roman. Mas pondera que a vantagem de Ciro fica diluída pela baixa audiência do debate.

Talvez por conta da ausência de Bolsonaro, o tom do debate esteve abaixo dos dois primeiros. Os candidatos fizeram questão de manifestar pesar pelo atentado contra o deputado do PSL e o pouparam de ataques diretos. As provocações mais intensas foram trocadas entre Boulos e Meirelles, sempre iniciadas pelo candidato do PSOL, crítico dos bancos. “Você fala em 'chama o Meirelles', e eu falo em 'taxa o Meirelles”, provocou Boulos. Meirelles retrucou com um contra-ataque já usado em outros debates: ganhou seu dinheiro trabalhando, ao contrário de outras pessoas, numa referência à militância de Boulos no movimento dos sem-teto.

Meirelles também foi apertado pelo jornalista Rodolpho Gamberini. "O senhor tem investimento nas Bermudas. A Odebrecht, por exemplo, tinha conta lá. [O deputado cassado] Eduardo Cunha também tinha um trust, como o senhor tem. O seu investimento é legalizado, aparece até com nome muito singelo, de Sabedoria, na sua declaração de imposto de renda. O senhor acha moralmente correto o presidente de um Banco Central de algum País, ministro da Fazenda, do Congo ou da Dinamarca, ter investimentos em moeda estrangeira em um paraíso fiscal?", questionou o jornalista. Meirelles disse que o rendimento do fundo será doado para a área de educação após sua morte, mas se enrolou na resposta.

Quando foi sua hora de escolher a quem atacar, o ex-ministro da Fazenda mirou em Alckmin. Meirelles destacou a propaganda política do tucano contra Bolsonaro, veiculada mesmo após o ataque a faco sofrido pelo deputado. Alckmin respondeu que o adversário não deve ter visto a propaganda, porque ela não mostra ataques. Em um segundo momento, Meirelles questionou o concorrente sobre a efetividade do combate ao crime organizado em São Paulo. Alckmin defendeu sua gestão: "Enquanto o Governo federal, do Lula, não tinha penitenciária de segurança máxima, já tínhamos três. Nós vamos levar isso pro Brasil inteiro e ajudar todos os estados, não só o Ceará. Vamos ter uma agência nacional de inteligência".

A última pesquisa Ibope mostrou Ciro, Marina e Alckmin embolados na disputa pelo segundo posto. Se a tendência apontada pelo instituto está certa, foi o candidato do PDT quem melhor aproveitou o terceiro debate presidencial.

O debate foi comentado ao vivo pelo professor da FGV Eduardo Grin. Veja como seguimos o terceiro encontro dos presidenciáveis abaixo:

Boulos chamando o debate políico à razão e o apelo para a cidadania diante dos problemas do país. Solidariedade. Mas a ideia de ser o candidato de fora do "sistema" não convence muito, pois o PSOL já é um partido que está no jogo político e eleitoral há anos.

Guilherme Boulos volta a citar os casos de violência envolvendo a vereadora Mariele Franco, a caravana do ex-presidente Lula e o candidato Jair Bolsonaro. "Esse sistema é o mesmo dos privilégios, da desigualdade, da indiferença. As pessoas perderam a capacidade de se colocar no lugar das outras. As pessoas veem alguém na calçada e passam reto. As pessoas se tornaram invisíveis. Uma criança chega no semáforo e alguém fecha o vidro do carro. A crise no Brasil é profunda, não é apenas econômica, política. É uma crise de destino, ética. Sou o único candidato com condições de enfrentar esse sistema porque não tenho rabo preso".

O candidato do MDB, Henrique Meirelles, prometeu gerar 10 milhões de empregos caso seja eleito. (foto S.Moreira/EFE)

Meireles vê sua candidatura como um problema? Passa uma visão ruim para o eleitor. O discurso da experiência é algo que o eleitor não identifca e nãomo vê como autor. É uma associação com pouco apelo eleitoral, apesar de destacar corretamente o problema do desemprego que atinge mais de 13 milhões.

"O que tenho é um profundo desejo de melhor a vida dos brasileiros", diz Henrique Meirelles. Nas considerações finais, ele diz que retirou o Brasil da sua pior recessão e promete criar 10 milhões de empregos no País caso seja eleito. "Eu sei como fazer isso. Já presidi uma grande organização mundial. Já vi como funciona e não funciona em 32 países. Colocando isso pra funcionar, criamos 10 milhões de empregos. Depois, tirei o Brasil da maior recessão da história. Junto com vocês, vamos criar mais 10 milhões de empregos".

Ciro Gomes volta a falar de sua proposta para retirar pessoas do SPC nas considerações finais e pede que o eleitor não decida agora, mas avalie melhor as propostas de cada candidato. "É preciso um projeto nacional de desenvolvimento que tenha resposta para tudo isso que nos leva ao desânimo ou a à revolta. Nem desânimo nem revolta são bons conselheiros. Não decide agora. Compare os candidatos. Assista aos debates. Veja quem entregou quando teve oportunidade. Veja se há coerência, se tem compromisso com a agenda da classe média e dos mais pobres. Tenho pouco tempo na TV, mas meu site explica todas as propostas". 

Ciro e o discurso da mudança e sua proposta do SPC. O único a destacar o desemprego e a violência contra a mulher. Fala de desenvolvimento e não de reforma. É outra narrativa para sua proposta de governo.

Ciro Gomes foi o que mais se sobressaiu nas menções do Twitter durante o debate da TV Gazeta/Estadão. Foram ao menos 45% dos tuítes, contra 12% de Marina Silva, por exemplo. ou 9% de Geraldo Alckmin. (Foto S.Moreira/EFE)

Alckmin e sua candidata a vice que é mulher visa o eleitorado feminino, o mais indeciso. Seu discurso da conciliação e da união nacional que dizer: fora extremo, ele seria o candidato da estabilidade para as reformas que o país precisa.

Ciro Gomes surfa na onda virtual

O tucano Geraldo Alckmin diz estar preparado para fazer "um grande esforço de unificação nacional" e defende a pacificação. "Apenas unidos vamos superar os grandes desafios do Brasil. Desafio do emprego, da renda, com uma agenda de educação, de saúde, de segurança. Todas as vezes que o Brasil fez esforço de pacificação, ele avançou. Os brasileiros já têm problemas demais. Não podemos ter um próximo presidente para ter mais problemas. O Brasil já errou. Já erramos e vimos as consequências. Estamos preparados para fazer um grande esforço em torno da reforma tributária, da mudança política, da reforma do Estado para que o País se encontre", afirma.

Álvaro Dias bate na tecla da corrupção como efeito do modelo de governo no país. Pode ser assim, mas sem propor como fazer política de outra forma soa um pouco populista. Positivo: também se opõe à violência na política.

Álvaro Dias diz que a descrença que toma o Brasil é fruto de "desgovernos" e da corrupção. "Eu confesso que teria constrangimento de apresentar qualquer proposta se antes não assumisse o compromisso de romper com esse sistema. Se preservarmos esse sistema, ele continuará sendo essa fábrica de barões da corrupção do País e não vamos alcançar os índices de crescimento. Hoje, é o ano novo da comunidade judaica e lembro que esse é o País das crenças e das religiosidades. Somos muitos Brasis dentro de um grande Brasil e devemos nos respeitar. O ódio cega a inteligência. A raiva e a inteligência alimentam a violência. O nosso repúdio a quem pratica a violência a quem estimula a violência. O Brasil precisa abrir o olho".

Segundo a medição apresentada pela TV Gazeta, Ciro Gomes (PDT) foi mencionado em 45% das postagens sobre o debate no Twitter.

Marina destaca atentado contra Jair Bolsonaro e defende tolerância às ideias diferentes. "Tivemos o assassinato da Marielle, atentado ao Lula e atentado contra Bolsonaro. Não vamos chegar a lugar nenhum com um País dividido", afirma. Marina volta a apostar no eleitorado feminino e pede apoio das mulheres. 

Marina, destaca ser mulher e busca o eleitorado feminino. Destaca sua origem humilde para buscar eleitores de Lula, sobretudo no Nordeste. Mas foi pouco expressiva no debate. Ponto positivo de opor-se à violência na política.

Neste quinto bloco, os candidatos fazem suas considerações finais conforme ordem determinada por sorteio prévio.

Até agora uma dúvida: será que o debate transcorre sem muita polarização em respeito ao que atentando contra Bolsonaro ou será que sua ausência modera todos e gera um debate com menos radicalidade e mais moderação? É preciso fazer essa pergunta. Vale refletir sobre ela.

Ciro não enfrentou a pergunta de frente, mas foi bemn ao defender a meritocracia na administração pública, mas deixando claro que o governo eleito tem que indicar líderes políticos e técnicos para implantar suas propostas.

"Teremos qualificação técnica e a redução para cerca de 14 ou 15 ministérios com qualidade profissional", diz Álvaro Dias, em resposta à pergunta de internautas sobre quantas pastas pretende manter em um eventual governo. Em réplica, Ciro comenta que as indicações políticas acontecem no mundo inteiro para auxiliar a implantação de políticas de governo. "O problema não é esse. O problema é o critério com que a política escolhe. É justo que a cúpula seja uma equipe sensível aos rumos estratégicos. No entanto, daí para baixo temos que profissionalizar radicalmente a administração pública e garantir estabilidade para ela". 

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