_
_
_
_
_

Bolsonaro viaja a Davos buscando suavizar sua imagem e apresentar um Brasil preparado para fazer negócios

As ausências de Donald Trump e dos principais líderes europeus transformaram o líder nacional-populista que dirige a oitava economia do mundo na estrela do evento

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, em Brasília, antes de embarcar.
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, em Brasília, antes de embarcar.Joédson Alves (EFE)
Naiara Galarraga Gortázar
Mais informações
Com Bolsonaro como astro, Davos encara a nova política
'Bolsonaro levará na mala para Davos a sombra da suspeita sobre seu filho Flávio'
Rastro de depósitos suspeitos para Flávio Bolsonaro aprofunda crise
Novos trechos de relatório do Coaf aumentam pressão sobre família Bolsonaro

O novo Brasil promovido pelo ultradireitista Jair Bolsonaro escolheu a cúpula de Davos (Suíça) com a elite econômica e política para se apresentar ao mundo. O presidente que ganhou as eleições com um programa de liberalismo econômico e linha dura na segurança deixa por alguns dias Brasília para anunciar na Europa que “o Brasil está aberto aos negócios e investimentos sem viés ideológico”, como explicam em Brasília fontes do Ministério da Economia comandado por Paulo Guedes, a quem Bolsonaro deu amplos poderes.

As ausências de Donald Trump e dos principais líderes europeus transformaram o líder nacional-populista que dirige a oitava economia do mundo na estrela do evento. O militar da reserva, que elogiou abertamente repressores da ditadura, como o coronel Brilhante Ustra, pretende suavizar sua imagem no exterior. O capital adora seu programa econômico —a Bolsa de São Paulo é uma das que mais subiram no mundo todo no último semestre—, mas seu programa político, com desprezo pelo meio ambiente e duros ataques à oposição, gera inquietação.

A cúpula de Davos recebe mais uma vez um novo presidente que chega do Brasil tentando dissipar temores. O esquerdista Luiz Inácio Lula Da Silva foi em 2003 à reunião de cúpula da elite, mas depois de ter participado do Fórum Social Mundial (a “contracúpula” de Davos), em Porto Alegre. Em termos econômicos, o ex-sindicalista seguiu a cartilha mais ortodoxa, e foi presença habitual em Davos durante o auge dos países emergentes.

Bolsonaro, um paraquedista militar da reserva que destila palavras de ódio a gays, feministas e indígenas, tenta se apresentar como um parceiro que oferece segurança para se fazer negócios no Brasil, uma das economias mais protecionistas da região, que emerge de dois anos de recessão com um tímido crescimento.

O ultradireitista quer ser um novo parceiro nos negócios e na diplomacia. Está dando uma guinada radical com sua aproximação dos EUA e de Israel e seu distanciamento de tradicionais aliados regionais. O novo ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, trumpista e autor de um blog antiglobalista, que acompanha Bolsonaro na viagem à Suíça, encarna essa mudança. E, para defender sua cruzada contra a corrupção, Bolsonaro leva ainda o ministro da Justiça, Sérgio Moro, o juiz que condenou o ex-presidente Lula em primeira instância. Um herói ou vilão no Brasil, a depender do público que o olhe. Os quatro dias em que Bolsonaro passará em Davos afastarão momentaneamente o presidente das crescentes suspeitas de corrupção que cercam um de seus filhos, o senador eleito Flávio Bolsonaro.

O carro-chefe de Bolsonaro em Davos será o superministro Guedes. Este gestor de fundos de investimento formado na Universidade de Chicago não detalhou seus planos para impulsionar a cambaleante economia do Brasil desde que tomou posse, em 2 de janeiro. Em Davos, enfatizará que os três pilares de sua receita são reformar a previdência (que come 53% dos gastos públicos), acelerar as privatizações e concessões, e reduzir substancialmente o Estado. Sua intenção, segundo as fontes citadas, é anunciar na cidade alpina que o comércio exterior (exportações e importações) aumentará para 30% do PIB (dos 23% atuais) até o fim de seu mandato, em 2022, e que duplicará para 2% do PIB o investimento em pesquisa e desenvolvimento.

Uma parte significativa da vitória eleitoral de Bolsonaro se deve ao fato de ele ser percebido como um dos poucos políticos brasileiros livres da suspeita de corrupção. Mas as acusações contra Flávio, um de seus três filhos congressistas, estão se acumulando. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) descobriu dezenas de depósitos suspeitos em sua conta em 2017, totalizando 96.000 reais. Isso, revelado na sexta-feira pela TV Globo no Jornal Nacional, soma-se a outros pagamentos suspeitos recebidos por seu motorista e velho amigo da família, Fabrício Queiroz, que era alvo de uma investigação, agora suspensa por uma decisão liminar de um ministro do Supremo Tribunal Federal, a pedido do filho do presidente. Flávio, seu pai e Queiroz se declaram inocentes. E, para tentar evitar que o tema ofusque sua estreia internacional, Bolsonaro não deve oferecer uma coletiva de imprensa em Davos, que já estava prevista inicialmente, mas foi retirada do programa oficial, segundo informações do jornal O Estado de S. Paulo —desde o início da crise envolvendo o ex-assessor de seu filho, a família Bolsonaro dá apenas entrevistas para veículos vistos como mais amistosos por sua gestão, algo que seria difícil de controlar em um evento com perguntas abertas na frente de todo o mundo.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_