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Polícia Federal realiza mandado de busca na casa de Eduardo Cunha

Ministro Celso Pansera, senador Edison Lobão e deputado Aníbal Gomes são alvos da PF

Casa de Eduardo Cunha, em Brasília, amanhece nesta terça cerca por policiais federais.
Casa de Eduardo Cunha, em Brasília, amanhece nesta terça cerca por policiais federais.Marcelo Camargo (Agência Brasil)

Em um desdobramento da Operação Lava Jato, a Polícia Federal cumpre desde as 6h desta terça-feira mandados de busca e apreensão na residência oficial do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em Brasília, e na casa dele no Rio de Janeiro. Batizada de operação Catilinárias, a ação é a segunda da PF desde que o peemedebista foi denunciado, em agosto, pelo crime de lavagem de dinheiro e corrupção por suspeita de receber cinco milhões de dólares para intermediar a construção de navios-sonda para a Petrobras.

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Os investigadores já haviam buscado documentos na Câmara para investigar a ação de Cunha em favor de empreiteiros presos neste esquema criminoso. A assessoria do investigado disse que ele estava na casa no momento que a polícia chegou. A PF —que usou farda camuflada ao entrar na residência— apreendeu até o celular do deputado. O nome da operação é uma referência a uma série de quatro discursos célebres do cônsul romano Cícero contra o senador populista Catilina, acusado de tentar dissolver o Senado e tomar o poder em Roma em 63 antes de Cristo.

As casas do ministro de Ciência e Tecnologia, Celso Pansera —que chegou a ser chamado de "pau-mandado de Cunha" pelo doleiro e delator Alberto Youssef—, do ministro do Turismo, Henrique Alves (PMDB-RN), do senador Edison Lobão (PMDB-MA), do senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), e do deputado federal Aníbal Gomes (PMDB-CE) também são alvos dos investigadores. Gomes é ligado ao presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), que também é alvo de inquérito na operação. O diretório estadual do partido em Alagoas foi alvo de buscas da PF.

Ao todo, o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, autorizou as buscas em 53 locais divididos entre São Paulo, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Pará, Pernambuco, Alagoas, Ceará e Rio Grande do Norte. São escritórios de advocacia, órgãos públicos e sedes de empresas suspeitas de envolvimento nos desvios de recursos da Petrobras. Os investigados respondem a crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, organização criminosa, entre outros.

Outros nomes ligados a Cunha são alvo da Catilinárias: a sua chefe de gabinete, Denise Santos, e o ex-vice-presidente da Caixa, Fabio Cleto —que havia sido exonerado do cargo pela presidenta Dilma na semana passada. Até o momento, nenhum suspeito foi preso. Lobão e Gomes já eram investigados pela Lava Jato, Pansera não era.  O ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, também é alvo da Catilinárias.

A operação é um duro golpe para o PMDB, que está no centro da disputa pela sucessão da presidenta Dilma Rousseff em caso de impeachment. A busca aconteceu poucas horas antes do início da sessão do Conselho de Ética que avalia o afastamento de Cunha por ter mentido à Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobras ao dizer que não tinha contas no exterior. A Lava Jato, porém, descobriu contas na Suíça do presidente da Câmara.

O Planalto divulgou nesta manhã uma nota sobre a Catilinárias: "O Governo Federal espera que todos os fatos investigados na nova fase da Operação Lava Jato envolvendo Ministros de Estado e outras autoridades sejam esclarecidos o mais breve possível, e que a verdade se estabeleça".

Só depois das 6h da manhã

Durante a sessão desta manhã no Conselho de Ética da Câmara, havia rumores de que Cunha anunciaria sua renuncia ainda nesta terça. No entanto, Cunha convocou uma coletiva de imprensa nesta tarde, perto das 15h, e foi taxativo ao dizer que "em hipótese alguma" deixará a presidência da Câmara. Sobre a operação da Polícia Federal em suas residências, ironizou: "Até aí nada demais. Eu mesmo falei que acordo às 6h da manhã e que a porta da minha casa estaria aberta".

Meses atrás, quando ainda gozava de grande popularidade entre os deputados e parcelas da população, Cunha havia dito que as portas de sua casa estavam abertas para a Polícia Federal, desde que não "chegassem antes das 6h", horário em que ele ainda estaria dormindo. Segundo informações da Agência Brasil, os agentes da PF chegaram ao local às 5h50, mas entraram na residência do presidente da Câmara pouco depois das 6h. Em sua conta no Twitter, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), um dos maiores críticos de Cunha, escreveu que "na sua infinita arrogância e cinismo, Cunha pedira, há meses, que a PF, indo à sua casa, 'não chegasse antes das 6h da manhã'. Foi feito!"

Na mesma coletiva de imprensa, Cunha reafirmou sua inocência e disse que o grande culpado pelo "assaltado" à Petrobras "é o PT". "Todos nós sabemos que foi o PT que assaltou o país. E aí de repente fazem uma operação contra o PMDB. Tem alguma coisa estranha do ar", opinou. "Só aqueles que não são do PT são alvo de operações até agora". E concluiu: "A transcrição da delação não bate com o vídeo da delação. Mas tudo bem. Estamos aqui sujeitos como qualquer brasileiro a ser investigados. Não tenho nenhum problema da minha parte. Mas acho estranho essa concentração em cima da gente".

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